Eu conheço poucas mulheres que passaram dos 45 e não viram a circunferência da barriga ganhar uns centímetros a mais. Mesmo comendo a mesma quantidade de sempre, fazendo as mesmas atividades, esse acúmulo de gordura localizada, que antes poderia estar nas coxas e no bumbum, parece surgir do nada e se instalar ali no meio do corpo para ficar.
A tal “barriga da menopausa” é uma das consequências mais comuns da transição hormonal pela qual as mulheres passam nessa fase. E esse processo pode começar até sete anos antes da pausa final da menstruação, na chamada perimenopausa, que em geral começa lá pelos 45 anos.
“Os hormônios modificam o corpo transformando a criança em mulher, os ovários começam a funcionar em torno dos 10 anos, e aos 15 anos em geral já apresentamos o contorno feminino, cintura mais fina e o aumento de quadril trazendo o realce feminino que define a diferenciação estética da mulher adulta. Certamente os estrogênios produzidos pelos ovários estão como maestros deste perfil, mas eles não trabalham sozinhos. A genética que traz os perfis corporais e o estilo de vida vão colaborar para que este corpo tenha uma silhueta tipo violão”, diz a endocrinologista e nutróloga Vânia Assaly.
E o que faz nosso corpo mudar de violão, ou pera, para um formato que lembra mais uma maçã nessa fase? O que ocorre é uma mudança drástica de como nosso corpo armazena gordura. Conforme nossos ovários deixam de produzir o hormônio feminino estrogênio, a gente passa a acumular gordura mais como os homens, ou seja, na parte central do corpo.
E embora a gente possa até não se importar esteticamente com a circunferência maior do abdômen, nem almejar uma barriga chapada, essa gordura pode trazer riscos à saúde. “Depósito de gordura central é responsável pelo aumento da incidência de diabetes, esteatose hepática (gordura no fígado), hipertensão arterial, entre outras doenças”, alerta a médica. Essa gordura, chamada visceral, é considerada mais perigosa pelos especialistas.
Ou seja, é normal que a maioria de nós passe por isso, mas demanda atenção. E há, sim, muito que a gente pode fazer em termos de estilo de vida para mudar esse quadro. Não é fácil eliminar essa gordura teimosa, mas é possível reduzi-la pelo menos a um patamar que não cause riscos à saúde.
Coma um pouco menos e melhor
É preciso controlar um pouco melhor as porções de comida do que quando éramos mais jovens, principalmente as mais calóricas. Vânia recomenda uma alimentação com redução de carga glicêmica. Uma dica é seguir uma alimentação mediterrânea (Na mesa dos moradores dessa região está a comida fresca e natural como frutas, legumes, peixes, azeite, oleaginosas, grãos e cereais. Leites e queijos são consumidos com parcimônia). Reduza o açúcar e o álcool ao mínimo possível. Eu sei, essa parte é difícil para a maioria de nós, mas faz muita diferença. Troque sucos e refrigerantes por água.
Muita água. Biscoitos, bolos, alimentos ultra processados e doces em geral devem ser pensados como algo fora da rotina. Não precisa deixar de comer. Mas não dá para ser todos os dias.
Mexa-se mais
A atividade física, incluindo exercícios aeróbicos e treinamento de força (principalmente musculação), pode ajudar na perda do excesso de gordura. À medida que você ganha músculos, seu corpo queima calorias com mais eficiência, o que facilita o controle de peso. Além disso, você ainda ganha uma sensação de bem-estar que o exercício traz. Não fazer exercício na peri e pós-menopausa não é mais uma opção para quem quer saúde e peso equilibrado.
Reposição hormonal
Para quem não tiver contraindicação, fazer a reposição do estrogênio, justamente o hormônio que o corpo vai parando de produzir nessa fase, pode ajudar. Já falei aqui sobre reposição hormonal e minha experiência pessoal com ela.
Por último, nada de se culpar, de perder a autoestima ou se achar a última das mulheres por conta de uma barriga. Nosso foco, antes de mais nada, deve ser na saúde. E mudanças de hábito e corporais podem levar tempo. Por isso vá com calma, persistência e os benefícios vão surgir. As mudanças devem ser para a vida, não para caber num jeans de quando era mais jovem.