O dia 8 de março é, desde 1975, comemorado pelas Nações Unidas como o Dia Internacional da Mulher. O marco histórico foi uma tragédia humana e social, quando 129 operárias foram carbonizadas em uma fábrica em Nova Iorque em 1857. De lá pra cá, a sociedade é outra. Nascida da luta das mulheres por melhores condições de trabalho e da crescente consciência de sua exploração, a data nos leva a buscar relações sociais e de trabalho mais justas e a participação da mulher em todas as esferas da sociedade. Persiste ainda o desafio de iguais oportunidades em nossa esfera social.
Para marcar o Dia Internacional das Mulheres, o Jornal PC Notícias traz uma reportagem com uma personagem marcante na história de Duartina. Afinal, ter quarenta e seis anos de serviços prestados à educação não é para qualquer pessoa. É para quem tem muito amor à profissão. Estamos falando de Dona Marlene Gomes de Souza Caetano, de 83 anos.
Apaixonada pela arte de lecionar, a professora e diretora curte a aposentadoria sempre na companhia das três filhas e dos cinco netos.
Filha de ferroviário, nascida na cidade de Pederneiras, Dona Marlene foi criada em Bauru. Sua mãe, dona de casa, teve uma educação muito rígida. Seu pai, segundo ela, era descendente de espanhol e muito rigoroso na educação dos filhos.
Ela começou seus estudos no início da década de 50 no Colégio São José e realizou o ensino superior na antiga Faculdade Sagrado Coração de Jesus. Em 1960, terminou os estudos e em 1961 foi convidada para dar aula de Geografia em substituição a um professor que estava de licença.
Dona Marlene conta com emoção e saudade que veio de Bauru de trem. Desceu a pé da rodoviária até o hotel conhecido como Hotel da Mariquinha, onde ficou hospedada por alguns dias, até ser convidada a morar com Beatriz Reis, mãe da Sra. Mariza Reis, que foi sua colega de turma até o casamento.
Sua paixão pela profissão e também pela cidade logo conquistaram seu coração. Em uma quermesse de Santa Luzia, acabou recebendo um correio elegante, na época único meio de se comunicar com as meninas da cidade, com a pessoa que completaria seu ciclo de vida na cidade. Raul de Souza Caetano foi sua única e eterna paixão.
Boêmio da época, ela diz não lembrar das inúmeras vezes em que Raul, às vezes sozinho, às vezes acompanhado de amigos, debruçava-se em cima do violão e dedilhava as cordas de aço para demonstrar a paixão que o rodeava.
Dona Marlene conta que sua paixão pela educação veio desde a infância. Disse que o Sr. Euclides Calil (in memoriam) foi um dos grandes incentivadores para que ela prestasse o concurso para diretora de escola. “Ele sempre falava que iria passar para juiz e que eu deveria prestar concurso para diretora. Acabei ouvindo seu conselho, fiz o concurso e passei. E daí em diante passei a ser diretora do Gebara”.
Dona Marlene acredita que o ensino de hoje em dia pouco diverge do passado, mas faz uma ressalva: “Antes, os professores eram respeitados, os pais davam total liberdade a eles. As famílias apoiavam muito os professores. Hoje em dia, infelizmente, a qualquer descuido do professor, os pais se revoltam contra ele e, em alguns casos, vão parar na polícia. Quanto ao aprendizado, é sempre assim, tem os que estudam e tem os que não estudam, então é muito relativo”.
Com seus 46 anos de magistério, Dona Marlene se arrisca e dá um conselho às pessoas que decidem ensinar: “Amor à arte, amor à profissão e àquilo que tem que fazer. Preparar bem as aulas, saber conversar com as crianças, principalmente com os adolescentes”.
Ela conta que conseguiu realizar todos os sonhos da sua vida. “Sempre sonhei baixo, portanto, não foi tão difícil realizar todos os meus sonhos”.
Perguntada de qual foi o melhor momento da sua vida, ela responde com uma velocidade incrível e ao som de risos: “Gebara”.
Sobre momentos felizes da vida, ela destaca o trabalho e a família. “Os momentos tristes são aqueles momentos em que se perde as pessoas queridas que estiveram em nossas vidas por muitos anos”.
Dona Marlene concluiu dizendo disse que, para a mulher vencer na vida, ela tem que provar que, apesar de ser mulher, é tão capaz quanto os homens. “Não é porque você é mulher que você tem uma condição inferior. Você tem as mesmas condições de qualquer outra pessoa”.