HABITAÇÃO – GRUPO OCUPA TERRENO E ORGANIZA NOVO ASSENTAMENTO EM BAURU

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A “Terra Prometida” está em fase inicial, inclusive com os primeiros moradores acampados plantando horta comunitária

 

Por Bruno Freitas – JCNET

 

 

 

Está surgindo em Bauru um novo acampamento de pessoas sem casa e sem terra, que ocuparam um terreno na zona noroeste da cidade. A estimativa dos assentados é de que a área irá receber mais de 200 famílias, gradativamente, nas próximas semanas. O fato reabre no município uma discussão sobre ocupação de terra e déficit habitacional. Procurada, até o momento a prefeitura ainda não se manifestou.

Batizado por lideranças como “Terra Prometida”, o assentamento recebe apoio do Movimento Social de Luta dos Trabalhadores (MSLT) e fica próximo dos imóveis do novo Parque Primavera, região do Jardim Andorfato e da rodovia Bauru-Marília, zona Noroeste, próximo ao Cemitério Cristo Rei.

A área total do terreno ainda não foi contabilizada, mas os assentados estão dividindo seus lotes em 15 por 30 metros, com espaço para erguer um barraco ou casa de madeira, com plantações em volta.

A reportagem conversou com três pessoas dentre diversas que estavam capinando o solo na manhã desta terça-feira (22). Dois jovens de 22 e 25 anos e um homem mais velho, de 45.

Eles optaram por não ter suas identidades reveladas e já estão passando a noite sob um teto improvisado, feito de lona e estacas de madeira. O trio não possuía experiência de mexer com solo, mas está aprendendo conforme os dias vão se passando.

Todos afirmam ter esposas aguardando para se mudar também. Apenas um deles não tem filhos. Já os outros dois afirmam que vão trazer as crianças em breve. Dois deles já residiram na Vila Falcão, de aluguel, e um no Jardim Redentor. Os três trabalham com “bicos” e concordam que foram motivados a vir até o assentamento pela dificuldade financeira.

A primeira família se instalou há mais de dois meses, segundo eles. E, nas últimas semanas, mais bauruenses estão migrando para o local.

 

PLANTIO

O autônomo de 45 anos, que tem quatro filhos de criação, afirma que todos ali estão encarando o desafio no acampamento para ter um canto para cuidar da família.

 

 

“Estamos com um grupo muito unido, todos se conheceram aqui e um ajuda o outro. E vamos poder comer o que plantarmos e colhermos. Aqui o solo é fértil e macio para plantio. Vamos semear milho, alface, mandioca, banana, maracujá, manga, salsinha, cebolinha, tomate, entre outras coisas”, disse o homem.

Na tarde de ontem, a reportagem do JC conseguiu contato com uma das lideranças estaduais do MSLT, Bruno Barboza dos Santos, que também foi coordenador do antigo assentamento Canaã, local onde parte das famílias foram remanejadas para lotes no Parque Primavera, ainda na gestão do ex-prefeito Clodoaldo Gazzetta (PSDB), próximo da atual ocupação.

“É importante deixar claro que o movimento do assentamento é pacífico, organizado e feito por pessoas de família, todas trabalhadores. Ninguém ali é desocupado. Isso é resultado de um déficit habitacional muito grande no Brasil. Hoje, quem está se mudando para o acampamento Terra Prometida são pessoas que tinham que optar entre pagar aluguel ou comer”, comenta o líder do MSLT.

 

 

“IMPRODUTIVO”

Bruno Barboza acrescenta que o local foi escolhido por ser improdutivo, não sabendo, no entanto, especificar se é, de fato, terreno público. “Tudo está ainda no início, na fase de demarcação e medição de áreas. Sabemos que o território aqui não está cumprindo sua função social. E o MSLT está apoiando esse acampamento novo. Ali teremos muitos que viviam no Canaã, mas não foram contemplados com lote pela prefeitura. O fato de escolhermos a região próxima do Primavera é coincidência”, diz o integrante, se referindo ao fato de as famílias situadas no Primavera terem vivido no antigo assentamento Canaã, que ficava na região do IPMet/Unesp.

 

CANAÃ

O MSLT reclama que boa parte dos moradores não foi beneficiada e ficou sem ter para onde ir. “Não estamos satisfeitos com a situação que ficou e vamos continuar fazendo ocupações até que todos eles tenham uma casa. Não queremos nada de ninguém, apenas que os direitos constitucionais sejam cumpridos”, cita Bruno Barboza.

O Parque Primavera, próximo dali, possui 36.835,83 metros quadrados, com cerca de 150 lotes. Conforme o JC vem acompanhando desde 2017, 350 famílias estavam no assentamento Canaã em situação de vulnerabilidade social. Apenas 148 delas estavam aptas a receber os lotes no Primavera.

 

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