O Brasil tem um novo presidente. Ou um antigo, depende de como você olhe para a situação. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi mais uma vez eleito para um mandato de quatro anos. Após passar 580 dias na cadeia por acusações de corrupção e ver suas chances de concorrer às eleições em 2017 suspensas, as acusações foram retiradas pelo STF e Lula voltou ao topo após uma campanha eleitoral extremamente violenta e com um país dividido.
A diferença de votos entre Lula e o segundo colocado, o atual presidente Jair Bolsonaro, foi de pouco mais de 2 milhões de votos, com Lula ganhando por uma enorme margem na região nordeste e Bolsonaro ganhando por uma grande margem no sul, trazendo à tona preconceitos regionais antigos e profundamente enraizados no Brasil.
Se por um lado, 60 milhões de brasileiros votaram a favor do retorno de Lula, 58 milhões queriam a continuidade do governo Bolsonaro.
Em um discurso logo após a divulgação dos resultados, Lula falou sobre a reconciliação e a adesão a um Brasil dividido, mas ele terá dificuldades para alcançá-la. Por todo o país, em pelo menos 25 estados, caminhoneiros e outros apoiadores de Bolsonaro estão organizando manifestações e bloqueando estradas, levando à escassez de bens básicos, na tentativa de contestar o resultado das urnas e forçar um golpe.
Não ajuda à democracia que Bolsonaro tenha se recusado, por quase dois dias, a reconhecer a derrota ou mesmo a fazer uma declaração de qualquer tipo. E quando fez, em um discurso de menos de 2 minutos, se limitou a agradecer a seus eleitores e se recusou a reconhecer a derrota ou parabenizar o adversário.
Porém, Bolsonaro conseguiu ajudar a eleger uma forte base política de extrema-direita no Congresso que muito provavelmente se oporá a quaisquer políticas vindas do novo governo de Lula e forçará duras negociações com o chamado Centrão.
Ninguém sabe se Bolsonaro deixará o governo pacificamente, afinal, ele passou anos ameaçando um golpe. Uma coisa é um discurso de dois minutos com tom supostamente pacificador, outro é o que ele pode fazer até janeiro.
Mas uma coisa é fato: mesmo com milhares de mortos na pandemia, mesmo com todo sistema contra, imprensa, judiciário, Bolsonaro ganhou quase metade dos votos.
Com parte do país imersa no processo de radicalização política, Lula não tem margem para erros. Ele herdará um país cuja economia passa por grandes problemas, uma guerra que não termina e um país dividido.
Dividido não apenas nas linhas de ideologias políticas, mas também nas linhas religiosas. Resta saber como Lula navegará a espinhosa questão da guerra da Rússia contra a Ucrânia – durante a campanha, o ex-presidente acabou repetindo a velha ladainha da esquerda latino-americana que equipara o Estado agressor, a Rússia, com a vítima, Ucrânia.
O agro negócio também será uma pedra no sapato do futuro presidente. No governo Bolsonaro não faltou apoio e dinheiro ao agro que é o grande trunfo da economia do país. Por enquanto, é só aguardar e torcer para que Lula tenha mudado e não traga junto com seu mandato aquele Brasil que foi mergulhado na lama da corrupção.